quinta-feira, 3 de março de 2011

Cisne Negro (Black Swan)

Eu gosto muito de pensar em outros títulos que serviriam bem ao filme, e esse filme eu diria que "Além da perfeição do cisne" seria um título interessante.


No longa de Darren Aronofsky, Nina (maravilhosamente interpretada por Natalie Portman) submete-se a interpretar o cisne branco e o cisne negro no famoso balé: Lago dos Cisne, um balé composto por Tchaikovsky em meados do século XIX.  Nina recebe uma educação conservadora e é criada toda sua vida como uma criança, seu quarto decorado com ursinhos de pelúcia e papel de parede um tanto quanto infantil e a forma como Nina interage com sua mãe demonstra uma infância presa e muito censurada. Sua mãe que sonhava em ser a melhor bailaria teve o sonho fracassado quando ficou grávida de Nina. Tornando-se assim uma mãe que alimentava os desejos de sua filha, mas desejando seu fracasso.

Nina, não tinha personalidade para interpretar um dos papeis dos cisnes; O Cisne Negro é perverso, é a parte sensual, poderosa e selvagem, características que Nina ainda não tinha. Para conseguir o papel nina demonstrou que dentro dela havia algo preso, o lado negro foi atiçado quando mordeu os lábios ao ser forçada e estimulada sexualmente pelo diretor Thomas Leroy (perfeitamente interpretado por Vincent Cassel) que a seduziu e a beijou. Thomas sentiu que Nina tinha algo a mostrar.

Thomas fertilizava a mente de Nina para liberar seus impulsos sexuais reprimidos. Nina sofria pressão do seu eu interior e se sentia incapaz de ser perfeita. Em busca desse desejo, Nina já não controlava todas suas emoções. Além de sua mãe carrasca e seu diretor Thomas, surgiu mais um “demônio”, Lily (Mila Kunis) era tudo que Nina não era. Voraz, maligna, impiedosa, Lily, era o próprio Cisne Negro. Lily, com toda sua personalidade perversa aparece como uma forma perfeita de Nina buscar seu papel de Cisne Negro, porém, ameaçadora por almejar o papel de Nina.

Nina começa apresentar sinais de delírios, Percebemos isso quando Nina vê seu reflexo no vidro do metrô de uma forma contrária ao que deveria refletir. A partir dali Nina começa a ter distúrbios alimentares, delírios psicológicos e autoflagelação.

A direção brilhante de  Aronofsky trata o filme em cenas escuras, e lugares claustrofóbicos que intensifica a escuridão que existe dentro de Nina.  Nina começa a ficar tensa, inconstante, acredita ter feito sexo com Lily, onde era apenas um sonho. Esse terror psicológico vem à tona quando Nina sente e realiza expelir uma pena preta de seu corpo. As dores físicas. O corpo flagelado na cena quando ela descalça sua sapatilha e seus dedos estão grudados como um “pé de pato” das costas arranhadas pelas unhas quebradas. Seu corpo já indiciava a fuga, a libertação do oposto. Já se via que Nina não era só porcelana.

No grande dia Nina chega a delirar achando que havia matado Lily que estava se preparando para interpretar o Cisne Negro. Foi vítima de sua invejosa mãe ao tentar convence-la de que ela também não conseguiria fazer o mais conceituado papel do balé. Mas nina já estava aflorando seu lado obscuro, não deixou sua mãe impedi-la e saiu para fazer o que se preparou todo esse tempo; “ser perfeita” Chegar ao extremo, libertar-se. Nem Lyli, nem sua mãe, nem plateia, nem o diretor Thomas destruiria a revolução reprimida de Nina. Com certeza sua apresentação foi bela. O que Aronofsky tenta transmitir quando começa a nascer penas em Nina e em fração de segundos seu corpo fica todo coberto é extraordinário. O êxtase, a explosão da perfeição no rosto de Nina é indescritível. Quando Nina sobe para a última cena antes de se jogar olha para a plateia e naquele momento sente que aquele dia valeu por todos de sua vida. Utopia ou perfeição? Nina já não sabia.



“Seu sonho passou de um simples papel. tornou-se obsessão.”


Por Adolfo Ferrari